segunda-feira, 29 de julho de 2024

SINTE adverte: cuidado com os golpes


Criminosos seguem praticando golpes contra trabalhadores/as em Educação e infelizmente, alguns colegas já foram lesados.

Reforçamos:
  • O SINTE-RN não pede dinheiro para liberar alvarás!
  • Nenhum trabalhador em educação, seja da ativa, aposentado ou pensionista deve transferir dinheiro para ter valores liberados pela Justiça.
  • Não transfira ou deposite qualquer valor em troca do recebimento de um suposto dinheiro.
  • Se algum suposto diretor, funcionário ou advogado ligado ao SINTE entrar em contato por WhatsApp, ligação, carta ou e-mail informando que você tem valor a receber, mas que deve fazer algum pagamento para tal, não responda e denuncie.
  • Golpistas entram em contato por meio de números de celular diferentes. Caso receba alguma mensagem solicitando pagamento/depósito/transferência, denuncie o número e bloqueie no WhatsApp.

quarta-feira, 24 de julho de 2024

Mau resultado do Brasil no Pisa está ligado ao baixo investimento na educação pública

Um investimento adequado pode não ser o único fator para melhorar a educação, mas certamente, um aporte de menos de 4% do PIB dificulta a execução de qualquer boa ideia

Em casa ou na escola, o tablet não pode ser sinônimo de babá eletrônica

por Marcelo Takeshi Yamashita, da Universidade Estadual Paulista (Unesp)

O resultado do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), divulgado em 18 de junho, mostra que 54% dos estudantes brasileiros de 15 anos foram avaliados como tendo uma baixa capacidade de pensamento criativo. A OCDE, organização intergovernamental que conduz a prova, define criatividade como “a competência para se envolver produtivamente na geração, avaliação e melhoria de ideias que podem resultar em soluções originais e eficazes, avanços no conhecimento e expressões impactantes da imaginação”.

Dentre as questões selecionadas para avaliar a criatividade estavam, por exemplo, dar três títulos para uma imagem, escrever duas ideias de histórias sobre a interação de um humano e um robô inteligente, preencher balões de diálogo de uma história em quadrinhos com uma conversa entre a Terra e o Sol, criar um pôster para uma feira de ciências com o tema “vida no espaço profundo”, sugerir três ideias diferentes para melhorar a acessibilidade para cadeiras de rodas em uma em uma biblioteca, e dar duas ideias diferentes e testáveis para explicar o declínio de uma população de sapos de um rio próximo a uma cidade.

No Brasil, a prova foi aplicada a 10.798 alunos de 599 escolas – mais da metade desses estudantes, 54%, não atende o mínimo que seria esperado em termos de criatividade. No caso das habilidades em matemática, o resultado é ainda mais desastroso com com 73% dos alunos com desempenho insatisfatório. Para as habilidades de leitura e ciências, o número de estudantes com desempenho abaixo do esperado corresponde a, respectivamente, 50% e 55%.

É possível recorrer à lista de classificação dos 81 países que participaram desta edição e ver alguma vantagem de não ter ficado em último lugar. A realidade, porém, mostra que o Brasil vai mal na formação dos jovens. O desempenho dos estudantes brasileiros é sofrível, e as políticas públicas da educação básica não estão funcionando.

Um dos motivos frequentemente apontados como causador da baixa qualidade do ensino é o sistema de progressão continuada. Neste processo, os estudantes avançam para a série seguinte ainda que não tenham atingido as condições mínimas para a progressão. Grosso modo, o objetivo é reduzir a evasão dos estudantes através de um processo contínuo de aprendizagem, com apoio pedagógico para que os estudantes possam superar as dificuldades sem que sejam separados de sua turma.

A ideia da progressão continuada é interessante e tem reduzido a evasão – de 2007 a 2020, a evasão no ensino fundamental brasileiro caiu de 5% para 2,2% –, mas não tem funcionado para lidar com a realidade do país, e o recente resultado do Pisa retrata isso. É equivocado, porém, pensar que a reprovação dos estudantes poderia amenizar os problemas educacionais no Brasil.

O sistema de progressão continuada não é utilizado em todos os lugares. Relatório do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), de 2021, mostra que estados com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) semelhantes não têm diferenças significativas nas notas de proficiência em língua portuguesa e em matemática, por exemplo. Para estudantes do 9° ano do ensino fundamental os estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina têm, respectivamente, notas 268,4; 264,5 e 268,4 para português,  e 267,1; 267,1 e 270,5 para matemática. São Paulo adota o sistema de progressão continuada, mas Paraná e Santa Catarina, não. O Amazonas teve a pior nota em português 251,7, e o Maranhão foi o pior em matemática com 229,3.

Os resultados do Saeb são convincentes o bastante para mostrar que o problema educacional brasileiro, escancarado pelos resultados do Pisa, vai além de questões conjunturais, relacionadas à progressão dos estudantes, e atinge de maneira relativamente homogênea o sistema público como um todo.

O atual Plano Nacional de Educação (PNE) data de 2014 e deveria ter encerrado o seu decênio no último 25 de junho. Recentemente, foi aprovada a prorrogação até 31 de dezembro de 2024. Relatório do 5° ciclo de monitoramento das metas do PNE, publicado em 2024 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), pode dar uma indicação de um dos principais problemas estruturais que atingem o sistema educacional.

Embora exista uma rede complexa de fatores afetando a educação pública, não há dúvida de que um investimento mínimo é necessário para começar a enxergar alguma mudança positiva. A defesa de que 10% do Produto Interno Bruto (PIB) seja aplicado na educação pública surgiu na esteira da constituição de 1988 e, mais especificamente, no II Congresso Nacional de Educação, de 1997. Este número foi calculado com base na renda per capita e nos investimentos médios por estudantes em vários países. Os detalhes estão descritos no livro “Um diagnóstico da educação brasileira e de seu financiamento”, de Otaviano Helene.

A meta 20 do atual PNE preconiza especificamente o cumprimento desse porcentual. O gasto público com educação pública deveria ser de 7,0% do PIB até 2019 e 10% do PIB até 2024. O relatório do Inep mostra que esta meta está longe de ser cumprida– até 2022, investiu-se somente “5,1%”. O número foi colocado entre aspas porque não é preciso ir além das informações oficiais para ver que este porcentual é enganoso, e está superestimado.

Na página dos Indicadores Financeiros Educacionais do Inep consta, logo no início:

“O Investimento Público Total em Educação compreende os valores despendidos nas seguintes Naturezas de Despesas: Pessoal Ativo e seus Encargos Sociais, Ajuda Financeira aos Estudantes (bolsas de estudos e financiamento estudantil), Despesas com Pesquisa e Desenvolvimento, Transferências ao Setor Privado, outras Despesas Correntes e de Capital, e a estimativa para o complemento da aposentadoria futura do pessoal que está na ativa (Essa estimativa foi calculada em 20% dos gastos com o Pessoal Ativo).

Ora, “transferências ao setor privado” e “complemento da aposentadoria futura do pessoal que está na ativa” não são investimentos em educação pública. Um gasto estimado de 20% com aposentadorias representa aproximadamente 1% do PIB, ou seja, se incluirmos ainda os repasses para o setor privado, o investimento deve ser menor do que 4% do PIB.

Na física, quando ocorre uma manipulação de números com a finalidade de se chegar a algum resultado pré-determinado, dizemos que o pesquisador está cozinhando os dados. No caso do cálculo do investimento em educação, podemos dizer que foi feita uma completa ceia natalina. Não é difícil, portanto, ver por que a educação pública vai mal. Um investimento adequado pode não ser o único fator para melhorar a educação, mas certamente, um aporte de menos de 4% do PIB dificulta a execução de qualquer boa ideia. Não existe solução mágica. Sem um investimento adequado, o Brasil vai continuar fracassando na educação da população. 


Marcelo Takeshi Yamashita, professor do Instituto de Física Teórica,
Assessor-chefe da Assessoria de Comunicação e Imprensa,

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

terça-feira, 23 de julho de 2024

Rede Estadual: SINTE divulga lista com nomes de trabalhadores/as em Educação com alvará liberado pela Justiça

No segundo semestre de 2024 a Justiça liberou cerca de 2 mil alvarás para trabalhadores/as em Educação da Rede Estadual que são beneficiários/as das ações coletivas de nº 0802381-93.2012.8.20.0001 e n⁰ 0004628-22.2008.8.20.000; ações voltadas para professores/as e funcionários/as que foram ajuizadas e conquistadas pela SINTE-RN.

A lista com os nomes dos/as integrantes dessas ações, que já estão com alvará liberado pela Justiça e portanto, com os valores liberados para recebimento, pode ser acessada clicando AQUI ou pode ser consultada através do link: http://sintern.org.br/app/uploads/2024/07/lista-alvarás_julho-2024_SINTERN.pdf .

Ao acessar a lista, é possível verificar o nome completo acrescido dos cinco dígitos finais do CPF de quem integra uma das ações e já possui alvará liberado. Caso o trabalhador ou a trabalhadora em Educação encontre o seu nome, deverá entrar em contato com a sede estadual do SINTE, em Natal, ou com alguma regional ou núcleo do Sindicato para agendar o recebimento do alvará. Nos casos em que o/a profissional for falecido, os/as herdeiros/as também devem procurar o Sindicato para fazer a habilitação e ter acesso aos valores. Mais informações podem ser obtidas, provisoriamente, pelo número/WhatsApp: (84) 99936.0179.

A diretora de Assuntos Jurídicos e defesa do trabalhador e da trabalhadora em Educação do SINTE, Eliene Bandeira, ressalta que é possível que alguns profissionais cujos nomes aparecem na lista já tenham recebido o alvará. “Em visita ao Tribunal de Justiça ou através de algum advogado mais próximo, é possível que o trabalhador já tenha acessado esse alvará. Nesses casos, pedimos que o profissional desconsidere o nome, pois ele consta da lista por não ter sido dado baixa ainda no Sindicato”, explica Eliene.

SAIBA MAIS SOBRE AS AÇÕES COM ALVARÁS DISPONIBILIZADOS

A ação nº 0802381-93.2012.8.20.0001 diz respeito ao Plano de Carreira dos/as funcionários/as da Educação, especificamente a diferença salarial em virtude da aplicação da Lei Complementar nº 432, de 2010. Essa ação foi iniciada no ano de 2012 e compreende dois períodos (2010-2012 e 2012-2014), abrangendo mais de 6 mil profissionais.

A ação nº 0004628-22.2008.8.20.0001 é voltada aos/as professores/as do Estado e teve início em 2008. Ela abrange a defesa do valor correto da pecuniária e da gratificação por título, sendo retroativa ao ano de 2003, compreendendo um intervalo de tempo que vai de fevereiro de 2003 a julho de 2016 e abarcando cerca de 16 mil pessoas.

CUIDADO COM OS GOLPES

Tentativas de golpe contra trabalhadores/as em Educação têm chegado ao conhecimento do SINTE. Nessas tentativas, os/as criminosos se passam por dirigentes do Sindicato, por funcionários da entidade e por advogados da assessoria jurídica e pedem determinado valor como condição para a liberação de alvará.

A categoria deve ficar atenta, pois o SINTE NÃO solicita qualquer tipo de depósito, transferência de valores ou pagamento de boletos com o objetivo de acelerar ações judiciais e liberar alvarás. Não existe essa prática no Sindicato.

“Caso alguém entre em contato com você, por WhatsApp, Instagram, Facebook, Twitter (atual X), E-mail, Correios e/ou Telefone, e seja solicitado dinheiro, procure imediatamente e exclusivamente o Sindicato, denuncie e não deposite nenhum valor”, informa Eliene Bandeira.

segunda-feira, 22 de julho de 2024

Urgente: SINTE solicita contato de servidor estadual


 COMUNICADO



Nós, que fazemos o Núcleo do SINTE/RN em São José de Mipibu, solicitamos ao servidor estadual VALDENIR TEIXEIRA DA SILVA, funcionário da Escola Estadual Prof. Hilton Gurgel de Castro (CAIC/SJM), que entre em contato conosco - pessoalmente ou por telefone -  para que possamos tratar de assunto de seu interesse com urgência.

99104-1183 (Laelio)

99147-8224 (Rozangela)

segunda-feira, 15 de julho de 2024

Governo promete apresentar PCCR dos/as funcionários/as em agosto

 

O Plano de Cargos, Carreira e Remuneração (PCCR) dos/as funcionários/as da Educação será apresentado ao SINTE-RN em 8 de agosto, após análise da Procuradoria Geral do Estado (PGE). A informação foi passada aos dirigentes do Sindicato durante audiência na Secretaria de Administração que contou com as presenças de representantes do Gabinete Civil e da Secretaria de Educação. Apesar da demora em apresentar o texto e do envio do Projeto de Lei (PL) do PCCR à Assembleia Legislativa não ter sido cumprido, o SINTE segue na luta.

A audiência entre Sindicato, SEAD, SEEC e Gabinete Civil foi realizada na tarde de 10 de julho em resposta a um Ato Público organizado pelo SINTE no período da manhã. O Ato ocorreu em frente à Governadoria, no Centro Administrativo, e reuniu funcionários/as da Educação que cobraram do Governo o envio do Projeto de Lei do PCCR à Assembleia Legislativa.

O PCCR dos/as funcionários/as é uma pauta antiga da categoria e havia uma promessa do Governo de que o PL sobre essa matéria seria encaminhado à AL em maio de 2023. No entanto, a promessa foi descumprida e o Governo ainda não havia esclarecido os motivos pelos quais não encaminhou o Plano para avaliação e votação dos/as deputados/as. O Sindicato faz a cobrança pelo envio do PL que trará valorização profissional para os funcionários, data base e previsão legal de reajuste salarial anual.

Urgente: Núcleo do SINTE/RN aguarda contato de servidor contemplado com alvará judicial



 
 COMUNICADO



Nós, que fazemos o Núcleo do SINTE/RN em São José de Mipibu, aguardamos o contato do servidor estadual VALDENIR TEIXEIRA DA SILVA, funcionário da Escola Estadual Prof. Hilton Gurgel de Castro (CAIC/SJM), para que possamos encaminha-lo para o recebimento do seu alvará.


99104-1183 (Laelio)

99147-8224 (Rozangela)

Resistência Katu: cacique potiguar vai de reprovação a professor honoris causa

 

Cacique Luiz Katu, em palestra na UFRN I Foto: Mirella Lopes

O Cacique Luiz Katu nasceu e foi criado dentro do território Katu, localizado nos municípios de Canguaretama e Goianinha, sendo hoje o mais notório defensor dos direitos indígenas no Rio Grande do Norte. Sobrevivente do avanço do agronegócio sobre as áreas de aldeias, ele chegou a ser reprovado três vezes numa mesma série durante o exaustivo período em que dividia o dia entre a escola e o trabalho no corte de cana.

O episódio pode até parecer um contraste com o título de Professor Honoris Causa que vai receber da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern) e com as palestras que vem realizando sobre as questões indígenas. Nessa última semana, por exemplo, o Cacique falou sobre o tema a um grupo de estudantes do Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Porém, a desenvoltura e conhecimento de causa que demonstra hoje, são resultado de uma criação ligada às tradições que resistiu à opressão.

Cacique Luiz Katu, durante palestra na UFRN I Foto: Mirella Lopes

Cacique Luiz Katu, durante palestra na UFRN I Foto: Mirella Lopes

“Hoje eu uso todas as minhas forças para lutar para que nossa geração não seja massacrada. Lembro de todo esse processo de supressão que passamos e, para mim, isso é uma inspiração de luta. Todo o processo de educação indígena é possível desde que acreditemos que ele é possível. Eu fui uma pessoa que fui desacreditada”, lembra Katu.

Ao contar a própria história, o Cacique lembra de seus ancestrais, das lições aprendidas com os mais velhos e da liberdade de um povo que convivia com a natureza, sem precisar tomar posse dela.

“Eu era conhecido como Lula de Chão, que era o nome do meu pai, Seu Chão. Meu grupo familiar é formado pelas famílias que usam os sobrenomes Soares e Serafim, que sempre estiveram ligadas a esse território do aldeamento Igramació, onde hoje é a cidade de Vila Flor. Igramació era uma missão jesuíta. Mas, o grupo familiar da minha mãe, que é Potiguara, sempre foi de lá mesmo e minha avó ainda mora lá, na Comunidade Katu da Vila, que é como a gente chama os lugares por onde o rio Katu passa. Katu, na língua Tupi, significa bom”, explica o cacique, ao fim da palestra na UFRN.

O pai do Cacique Luiz Katu é do grupo dos Janduís, que habitaram o município de Goianinha.

“Seu Chão é do grupo que foi para esse refúgio, onde estavam alguns Potiguaras e Tapuias, formando uma resistência”, detalha Luiz Katu, que é o mais velho de sete irmãos, sendo seis homens e uma mulher.

“Seu Chão nunca deixou de falar dos mais velhos, dos nossos ancestrais, inclusive, tem uma tataravó nossa que tinha três buracos de venta e ela é muito comentada pelo nosso povo porque tinha um terceiro furo no nariz e conseguia assobiar por causa disso. Ela fechava a boca e soltava o ar só pelo nariz, aí fazia um som muito bonito. A gente queria imitar nossa tataravó com três buracos de venta, desde a minha infância ouvia essas histórias. Minha noção de respeitar a natureza veio do Conto dos Encantados, meu pai sempre me contou da importância da Iara, da Comadre Florzinha, como era importante respeitar as nascentes dos rios por causa do Batatão e Boi Tatá, sempre contou a história do haja Pau, que era para não mentir para os pais senão iria virar uma... essa nossa formação vem da base dos nossos povos originários que são os Potiguara. Isso nunca foi negado no meu grupo familiar”, ressalta o Cacique.


Cacique Luiz Katu é abordado após palestra na UFRN I Foto: Mirella Lopes

As boas lembranças foram interrompidas com a chegada ao território do agronegócio da cana de açúcar.

“Na década de 1970 aquela região onde é a APA [Área de Proteção Ambiental] Piquiri Una hoje foi muito atacada. Canavieiros e fazendeiros vieram de vários cantos, se instalaram lá e começaram a destruir toda a floresta. Como nosso povo estava à beira do rio, não sentiu muito essa aproximação, mas foi terrível porque se instalaram no território e passaram a dizer que era deles. Começamos a sentir quando ficamos proibidos de pegar mangaba na floresta por causa das cercas. Foi aí que começamos a nos revoltar, porque limitaram nosso acesso à região”, critica Katu.

“Isso nos tirou muito da forma tradicional de viver porque meus pais não tiveram oportunidade de estudar nessa educação convencional da escola e como nossa forma tradicional de viver foi muito limitada, Seu Chão passou a trabalhar para esses engenhos e canavieiros. Foi lá que ele teve a primeira experiência com água ardente e ele acabou se tornando alcóolatra. Lembro que ia com ele receber o dinheiro do trabalho no final de semana e era aquela situação do coronelismo. Ele [o fazendeiro] dava o dinheiro e levava meu pai para o barraco dele para gastar o dinheiro lá. Seu Chão comprava umas galinhas vivas, a gente voltava com elas dependuradas, e algumas coisas que precisava para casa e um litro de cachaça, que ia tomando no caminho. Muitas vezes chegávamos com as galinhas mortas ou rochas, aí não prestava para comer. Então fui criado vendo meu pai ser suprimido por esse processo de avanço do agronegócio da cana de açúcar... isso foi muito ruim”, lamenta.

Os diferentes

Sem acesso livre à região de floresta para coleta frutas, as famílias passaram a ter que fazer compras na cidade. Nessa fase, Katu percebeu que havia um olhar pejorativo sobre a pessoas de origem indígena.

“As pessoas do centro de Goianinha e Canguaretama nos tinha como pessoas diferentes por sermos indígenas. Não nos aceitavam, lá éramos chamados de ‘katuzeiros’, que é um pejorativo para ‘bicho do mato’, aquele atrasado, que anda descalço. As pessoas passavam gritando isso. Na escola isso também foi muito ruim. Eu ia em cima de uma caminhonete e para mim, o melhor dia era quando estava chovendo porque botávamos uma lona em cima da cabeça e ninguém via a gente”, relembra.

“Muitos parentes queriam deixar de ser Katu por causa disso. Eu já tinha um ímpeto diferente, de querer lutar contra aquilo. Mudar o que as pessoas falavam. Dos cinco parentes que estudavam comigo, só eu consegui concluir”, lamenta Katu.

Cacique Luiz Catu é abordado após palestra na UFRN I Foto: Mirella Lopes

Trabalho na infância

Luiz Katu começou a trabalhar ainda na infância para ajudar o pai. No período de colheita eles cortavam cana e, na entressafra, limpavam a mata na enxada e faziam a adubação para voltar a plantar depois.

“Quando ganhei mais corpo, comecei a ajudar ele. Nessa época já tinha três irmãos. Sofri muito nessa coisa de ter que ir para o canavial. Ele me botou numa escolinha que passou a ter na comunidade e era muito difícil conciliar a ajuda ao meu pai na cana e estudar. Essa situação me acompanhou por muito tempo. Tinha um período que eles chamavam de adubação. A gente pegava meio saco de 25 quilos de adubo químico, botava nas costas com um cano e saía correndo rápido porque se parasse, derrubava muito adubo num mesmo canto e, se isso acontecesse, estava desempregado, porque dava prejuízo ao dono do canavial. Fiz muito isso com Seu Chão. Isso era uma supressão ao nosso modo de vida, ao nosso direito de existir porque a cada dia eles aumentavam mais a área deles e limitava a nossa”, revela o Cacique.

Nesse período, por causa do cansaço, Katu foi reprovado três vezes na 1ª série do Ensino Primário da época.

“Passei quatro anos no 1º ano do Ensino Primário, acho que hoje é o Ensino Fundamental. Fui olhar uma ficha na escola e estava lá os quatro anos. Eles diziam que era muito rude e não iria aprender. Me passaram para o 2º ano porque já tinham preenchido a ficha [que só tinha espaço para quatro anos escolares]. Devem ter pensado, ‘vamos passar pra ver se ele desarna’”, conta Katu aos risos.

“Sentia muita dificuldade, além da timidez, que era terrível. Eu não tinha condições de chegar na escola como meus parentes, a questão da falta de alimentação era algo muito severo também, as escolas mal tinham merenda naquela época também, era uma ou duas vezes na semana, então ficava muito silenciado no cantinho. Cheguei a pensar que não aprenderia, mas minha mãe dava umas carreiras pra eu ir”, lembra rindo.

Aos trancos e barrancos, Luiz Katu concluiu os anos na escolinha da comunidade e, para seguir nos estudos, precisou passar para a escola que ficava no centro de Canguaretama, que ficava mais distante do canavial.

“Foram muitos problemas. Um deles foi quando pedi ao canavieiro, porque a gente ia naquelas caminhonetas abertas que levava para o canavial. Elas chegavam muito tarde e eu acabava perdendo o outro carro que levava a gente pro centro, para estudar. Fui falar com ele e perguntar se podia pedir ao motorista pra chegar mais cedo. Ele questionou como é que eu estava numa situação daquela, de cortar cana e querer estudar, tinha que escolher, ou uma coisa ou outra! Aí eu decidi a outra. Abandonei o trabalho, mas não 100% porque ainda precisava comprar material escolar, coisas extremamente necessárias. Então passei a fazer bicos, cortava cana e adubava quando precisava, mas não ia pra longe para não perder a escola”, explica o Cacique.

Estudantes durante palestra do Cacique Luiz Catu na UFRN I Foto: Mirella Lopes

Foi durante as aulas na escola que Luiz Katu começou a ouvir que as comunidades indígenas não existiam mais. As afirmações estavam nos livros e eram repetidas pelos professores em sala.

“Meu pai dizia uma coisa e a escola afirmava outra, isso estava muito latente nos livros da época e eu comecei a contestar até nos anos 1990 para 2000, quando fui fazer o magistério. Foi quando me posicionei e comecei a dizer que nós existíamos e meu pai nunca havia negado isso. Foi quando me convidaram para ser professor na escola indígena onde estudei. Eu ainda estava no 1º ano do magistério, mesmo assim aceitei, topei o desafio”, conta com orgulho.

“Foi a partir daí que comecei a lutar, junto com outras lideranças, em defesa do território. Até então não tinha uma luta aberta em defesa dos direitos fundamentais e de cobrar demarcação. Foi a partir daí que o cacique Luiz Katu começou a nascer”.

Depois de uma audiência pública realizada em 2005, o Cacique passou a ser referência e solicitado para defender os direitos fundamentais dos povos indígenas.

“Meus familiares nunca negaram a própria origem, mas na própria aldeia havia um processo de apagamento muito forte. Muitos tinham medo de dizer quem eram e assumimos o compromisso de fazer essa luta de resistência”, revela Luiz Katu, que encabeçou a luta para legalização da primeira escola indígena do Rio Grande do Norte, instalada na aldeia Katu, em Canguaretama, no ano de 2008. A escola é bilingue, com o ensino de português e Tupi.

“Conseguimos alterar a grade curricular da escola, criar a disciplina de Etno-história, fiz a pesquisa de conteúdo, o material didático e fui o professor da disciplina, porque não tinha ninguém para assumir. Organizei com a diretora da escola na época para implantarmos o bilinguismo, com o Tupi. Conseguimos parcerias com instituições de fora para podermos aplicar o bilinguismo com o Tupi”, detalha.

Outra mudança foi na metodologia das aulas, com a participação de pessoas da comunidade e até sob a sombra de árvores.

“Comecei a dar aulas públicas, palestras embaixo do cajueiro, da mangueira, das árvores do pátio da escola”, conta. Luiz Katu possui graduação em Pedagogia pela Universidade Estadual do Vale do Acaraú (UVA), em 2003. Atualmente é professor da Escola Municipal Indígena João Lino da Silva e Escola Municipal Indígena Alfredo Lima na aldeia Katu, nos municípios de Goianinha/Canguaretama. Luiz Katu é uma liderança indígena potiguar de forte atuação, e encabeçou a luta pela implantação de uma escola indígena na comunidade de Canguaretama.

Atualmente, além das unidades no território Katu, há escolas indígenas no território Mendonça, em João Câmara, na Tapará, em São Gonçalo do Amarante, e há processos de instalação em outras regiões.

A população indígena do Rio Grande do Norte está distribuída entre 121 municípios, segundo o Censo realizado em 2022 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Nove cidades concentraram cerca de 80% de toda população indígena residente no estado, estando a maioria em João Câmara (20,6%), Natal (15,3%), Macaíba (10,1%), Ceará Mirim (9,1%), Canguaretama (6,3%), Apodi (6,2%), Baía Formosa (4,8 %), Goianinha (4,4%) e São Gonçalo do Amarante (3,5%).

Luiz Katu, cacique indígena I Foto: acervo pessoal

Festejos

Luiz Katu também encabeçou o resgate das comemorações tradicionais que estavam sendo esquecidas, como a Festa de Todos os Santos.

“Era uma festa feita em todo 1º de novembro por um avô de criação da minha mãe, Seu Chico Nenê, desde a década de 1970. Mas, depois que ele faleceu na década de 1990, ele ficou adormecida, ficou só a parte religiosa. Chamei uns parentes nos anos 2000 para recuperarmos nosso festejo tradicional e fortalecer a lavoura indígena, que é o plantio da batata. A Festa de Todos os Santo se tornou a Festa da Batata, que desde 2002 é a maior e mais tradicional festa indígena do Rio Grande do Norte. Conseguimos dar visibilidade chamando as pessoas a conhecerem nossa cultura e tudo isso estava atrelado à educação. As escolas se preparam com exposições para participar da Festa da Batata”, comemora.

O fator X

Atualmente, o Cacique Luiz Katu é professor da disciplina de Etno-história, coordena um trabalho de Assuntos Indígenas em Goianinha e segue como ativista e fazendo palestras sobre a história e defesa das comunidades indígenas. Na apresentação que assisti na UFRN, ele foi aplaudido de pé por estudantes, professores e pesquisadores interessados no tema.

“Se não houvesse o entendimento de que a minha origem foi fundamental para me fortalecer, não teria sido possível mudar essa história”, diz Katu, se referindo aos anos de reprovação e falta de perspectiva de vida.

“Esse olhar é fundamental. Precisamos recusar o avanço do agronegócio da cana de açúcar para defender o território, a Mata Ciliar e a Mata Atlântica que ali está. Essa é uma luta nossa incansável. É esse ativismo que permite chegar a lugares como esse, na universidade”, reconhece Luiz Katu.


Texto e Fotos: Mirella Lopes
Matéria publicada originalmente pelo site jornalístico Saiba Mais

A reforma do Ensino Médio e a plataformização da educação – Por Heleno Araújo

"A questão central aqui é que essas plataformas tecnológicas são hoje, no Brasil e em grande parte do mundo, dominadas por grandes empresas": leia o artigo do presidente da CNTE, publicado na Revista Forum


Nessa semana, a educação brasileira viveu mais um ataque e retrocesso. A aprovação da proposta para o novo Ensino Médio pela Câmara Federal, desconsiderando boa parte dos avanços conquistados na versão aprovada pelo Senado a partir do relatório da senadora Dorinha (União-TO), revela os interesses obstinados e quase ocultos por trás daquele projeto.

Tudo isso começou ainda no ano de 2017: depois do golpe político contra a democracia brasileira, que se deu no afastamento da ex-presidenta Dilma Rousseff no ano anterior, o governo golpista de Michel Temer, em uma direção absolutamente oposta ao programa político eleito nas urnas em 2014, decide por meio da gestão de seu Ministério da Educação (MEC), comandado por Mendonça Filho (União-PE), impor via Medida Provisória (MP), uma reforma do Ensino Médio com profundas alterações curriculares no Brasil.

Como como no ditado popular, “pau que nasce torto, nunca se endireita”. Desde a edição da Lei 13.415/2017 (Reforma do Ensino Médio), o país passou por 4 anos de um governo de extrema direita, que intensificou a implementação daquela reforma da última etapa da nossa educação básica, e chegou até os dias de hoje, com a eleição de Lula em 2022 para o seu terceiro mandato como presidente, tendo essa mesma pauta no debate educacional.

As pressões sobre esse novo governo de Lula para a revogação da Reforma do Ensino Médio começaram já em seu primeiro dia de mandato, mas, apesar de um clima de mais diálogo e de representatividade instaurado no país a partir de 2023, rompendo com as trevas a que o país foi submetido em 4 anos de governo Bolsonaro, as resistências a enterrar de vez aquela reforma insistiam em persistir, mesmo no novo governo de Lula.

Tratava-se mesmo daquele tipo de proposta que, mesmo com as denúncias e mobilizações sociais de amplos e majoritários setores da sociedade civil organizada e do movimento educacional brasileiro mais identificado com um modelo de educação emancipador, insistia em se impor sobre todos.

A luta política que se travou para a revogação daquele modelo de ensino médio se deu nas ruas e no Parlamento brasileiro. A intensa disputa sinalizou o momento em que a pauta da revogação total deu lugar aos esforços de melhoria daquela proposta, diante de um quadro de opinião pública que, se consolidando, forjou a ideia na sociedade que o Brasil precisava mesmo de um novo ensino médio, e aquele antigo não interessava mais a ninguém.

Com o debate travado no âmbito do Congresso Nacional, a primeira surpresa não demorou a chegar: a escolha do nome do relator da matéria na Câmara Federal, um deputado muito ligado à proposta original daquela reforma que o país rechaçou.

O então ministro da educação de Michel Temer, lá em 2017, e hoje deputado federal Mendonça Filho, foi o nome escolhido. Quando o seu substitutivo chegou ao Senado Federal recebeu por lá inúmeras melhorias em seu texto, tendo a senadora Professora Dorinha tido muito mais sensibilidade para ouvir a sociedade brasileira e o seu movimento educacional.

De nada adiantou o esforço de escuta feito no Senado. Ao retornar para a Câmara, o ministro do governo golpista, hoje travestido de relator da matéria que era alvo das mudanças propostas, o que, diga-se de passagem, causaria constrangimento em qualquer pessoa, retrocedeu nas principais e mais centrais questões que no Senado foram incorporadas por Dorinha. De surpresa e supetão, colocou para votação em plenário na última terça-feira, dia 9 de julho, em regime de urgência.

A pista que fica sobre os porquês dessa obstinação persistente dos representantes do golpismo e da direita brasileira só pode estar dentro dessa proposta de novo ensino médio. E é a partir dela que temos que encontrar os motivos da insistência dessa elite concentradora de renda em querer aprová-la a qualquer custo, mesmo sob os marcos e também a anuência de um governo de esquerda, ou de parte dele.

A falta de coragem e de iniciativa em ter revogado ainda nos primeiros dias do governo Lula todo o entulho autoritário e golpista, representado por aquela proposta de reforma do ensino médio de Mendonça Filho e Michel Temer, cobrou o seu preço agora.

E qual é um dos principais motivos dessa proposta ter tido tanta sobrevida? A divisão curricular em uma parte comum e outra diversificada indicada na Lei 13.415/2017, que foi o resultado daquela Medida Provisória do começo de 2017, permitia que grande parte dos itinerários formativos (que era justamente a parte diversificada do novo currículo proposto pela reforma) fosse oferecida de forma remota. E como isso poderia se dar se não pelo uso de plataformas tecnológicas de educação a distância, hoje dominadas pelos setores privados ávidos de abocanhar os recursos públicos da educação.

O fundo desse debate sobre a plataformização da educação é que existiria uma necessidade no mundo moderno de se lançar mão e uso das tecnologias educacionais. E é claro que todos e todas precisamos de tecnologia e ela pode, sim, ser usada e incorporada nos processos educacionais.

A questão central aqui é que essas plataformas tecnológicas são hoje, no Brasil e em grande parte do mundo, dominadas por grandes empresas. E aqui é a chave da nossa questão. Que tal se parte do orçamento da educação, que em 2023 foi de quase 10 bilhões de reais, fosse canalizada e direcionada para as mãos daquelas grandes empresas?

De fato, são esses os interesses ocultos que moveram os atores a aprovar de forma perseverante e persistente esse “novo” ensino médio. Se tivéssemos no país plataformas tecnológicas públicas usadas nas nossas escolas, como poderiam eles quererem capturar esse volume imenso de recursos?

Em nosso próximo artigo, vamos aprofundar o debate do programa Escolas Conectadas paraTodos (da parceria entre o Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID), relacionando com a plataformização educacional que, de forma pioneira, já começa a acontecer nos estados do Paraná e de São Paulo.

A busca permanente da elite do dinheiro em sucatear a nossa e ducação pública, mas com um discurso que envolve os governos estaduais e parte da sociedade de se ter internet e tecnologia nas escolas, será nosso fio condutor para continuarmos nesse papo. Até lá!

Artigo escrito pelo presidente da CNTE, Heleno Araújo, para o site da Revista Forum.

sexta-feira, 12 de julho de 2024

Arraiá CERU 2024: "Quanto Mais Sou Nordestino Mais Tenho Orgulho de Ser"


 A Escola CERU, em Laranjeiras do Abdias, realiza a partir das 14h de amanhã  - sábado, 13 de julho -  a edição 2024 do "Arraiá CERU" com o tema Quanto Mais Sou Nordestino Mais Tenho Orgulho de Ser. 

Toda a comunidade escolar de São José de Mipibu está convidada a participar juntamente com a população amiga de Laranjeiras dessa festa que exalta a cultura e a tradição local e é, indiscutivelmente, a grande celebração da nossa nordestinidade.

Nota da CNTE: Mais uma vez, os privatistas impõem gravíssima derrota à educação pública

 


As pessoas que defendem a educação pública de qualidade, a democracia, a integração regional com os países de língua espanhola e que apostavam nas correções que o Senado Federal havia feito no primeiro substitutivo da Câmara dos Deputados ao PL nº 5.230/2023, que trata da reformulação do Ensino Médio, viveram ontem um misto de horror, raiva e decepção com a certeza de que o País está longe de encontrar a rota definitiva para a inclusão social de seu povo, com dignidade.

Em meio a atropelos regimentais nos processos de votação, propositalmente conduzidos pelo presidente da Casa, dep. Arthur Lira (PP/AL), a Câmara dos Deputados aprovou ontem o parecer do relator Mendonça Filho (União/PE) – ex-ministro da Educação e coautor da medida provisória nº 746/2016, que deu origem a nefasta reforma do Novo Ensino Médio (NEM) no governo do golpista Michel Temer. Orientou favoravelmente à aprovação do Parecer, o líder do Governo na Casa, dep. José Guimarães (PT/CE), que disse ter defendido o acordo entre o Governo, o relator e a oposição, firmado durante a primeira tramitação da matéria na Câmara, em março último.

Ocorre, no entanto, que o segundo momento de debates e ajustes no texto da reformulação do NEM se deu no Senado, onde a sociedade civil teve acesso ao diálogo e conseguiu corrigir parte das incoerências aprovadas no substitutivo da Câmara. E mesmo mantendo princípios da Lei nº 13.415/2017, o texto do Senado revertia uma parte importante dos prejuízos remanescentes no NEM, especialmente nos itinerários formativos e em particular na formação técnica-profissional.

As alterações no substitutivo original da Câmara, feitas pelo Senado, contaram com a participação do Ministério da Educação, à luz do processo democrático que rege os acordos políticos no Poder Legislativo. Neste sentido, esperava-se do Governo maior empenho para concretizar esses acordos, mesmo com as contingências que, sabidamente, ele possui para aprovar matérias de seu interesse na Câmara dos Deputados. Mas não foi o que aconteceu!

Dias após a aprovação do projeto no Senado, o Líder do Governo na Câmara fez coro às ameaças do relator Mendonça Filho para rejeitar o substitutivo oriundo da Casa revisora, o que acabou se concretizando na votação de ontem. Em 24 de junho, a CNTE emitiu nota sobre a postura incoerente de rejeição sumária dos avanços obtidos no Senado e solicitou a intervenção do Governo para ajustar os acordos feitos nas duas Casas legislativas.

Por algum motivo, seja por falta de sintonia entre as lideranças do Governo no parlamento, seja por complacência trágica do próprio Executivo, isso não aconteceu e a votação desastrosa do PL 5.230/23 passou feito um trator sobre os sonhos da juventude por uma escola pública de qualidade.

Apesar das limitações no Congresso Nacional, não há como eximir o Governo de mais esse triste episódio para a educação brasileira. Não se trata apenas do silêncio do MEC durante todo o dia de ontem, ou da manifestação desarrazoada do ministro Camilo Santana comemorando o texto da Câmara nas redes sociais, sem qualquer menção aos avanços que ajudou a produzir no Senado. O Centrão e o setor privado derrotaram a educação pública, sem oposição do Governo, e com o MEC negociando com o relator a derrota do texto do Senado (total incoerência!).

O parecer final de Mendonça Filho, que vai a sanção presidencial, contemplou apenas emendas de redação do Senado. O núcleo da reforma de 2017 está mantido, com alguns avanços, entre os quais, destacam-se:

(i) a recomposição da carga horária de 2.400 horas para a formação geral básica – FGB (exceto no itinerário da formação técnica-profissional);

(ii) a reintrodução curricular das demais disciplinas da BNCC na FGB (acabando com a obrigatoriedade apenas de Português e Matemática);

(iii) a regulamentação nacional dos itinerários através de diretrizes do Conselho Nacional de Educação;

(iv) a oferta de ao menos dois itinerários por escola, os quais também devem observar os conteúdos da BNCC; e

(v) a vinculação do itinerário técnico profissional ao Catálogo Nacional de Cursos Técnicos e às diretrizes curriculares do CNE. Outras questões de relevância foram ignoradas e, mais preocupante, o eixo privatista do NEM se mantém inabalável e aderente às perspectivas do Novo Arcabouço Fiscal, que tem ameaçado a vinculação constitucional de recursos para a educação e a saúde e da qual a sociedade não abrirá mão!

O substitutivo do Senado, por sua vez, apesar de manter o viés privatista do itinerário da formação técnica profissional, apontava avanços, entre eles:a limitação em 30% da carga horária para os itinerários formativos nas escolas de tempo integral;
a isonomia da oferta da FGB em 2.400h, mesmo para quem optasse pelo itinerário técnico profissional (o texto da Câmara mantém a carga horária da FGB em 1.800h nos cursos técnicos, podendo chegar a 2.100h se houver convergência de conteúdos entre o itinerário e a BNCC);
a regulamentação das contratações por Notório Saber para atuar na Educação Técnica e Profissional por meio de diretrizes nacionais;
a inclusão da língua espanhola no currículo obrigatório (pelo texto da Câmara, a oferta do Espanhol ou de outras línguas estrangeiras fica condicionada aos sistemas de ensino);
a oferta presencial e a utilização de Educação a Distância (EaD) no Ensino Médio apenas em situações de emergência temporária (o texto da Câmara não proíbe a EaD e condiciona sua oferta a regulamento dos sistemas de ensino);
a limitação de conteúdos extraescolares para compor o currículo dos estudantes nos itinerários formativos; (o texto da Câmara absorve cursos de curta duração e desconexos do currículo escolar (ex-Pronatec) e estimula o trabalho precoce de baixa remuneração); e
a obrigatoriedade de oferta noturna e presencial do Ensino Médio em municípios que apresentarem demanda manifesta (único ponto acatado pelo relator numa emenda de plenário).

Não obstante os prejuízos acima elencados, também o FUNDEB corre riscos de flexibilização, tal como aconteceu recentemente quando as matrículas das Escolas do Sistema S passaram a integrar o Fundo público. O apetite do setor privado sobre o FUNDEB não cessará e a disposição dos governos em se desvencilhar do compromisso da oferta pública escolar poderá precipitar novas alterações na Lei nº 14.113/2020.

Atualmente, outras rubricas orçamentárias são destinadas para as parcerias educacionais com o setor privado, e a expansão do itinerário técnico-profissional do Ensino Médio tende a acelerar o processo de privatização da escola pública, com todas as consequências já conhecidas.

A CNTE e seus sindicatos filiados continuarão lutando contra o desmonte da escola pública, forjado na reforma educacional de 2017, a qual, infelizmente, nem o processo de consulta pública do MEC sobre o NEM, tampouco a tímida ação governamental na votação de ontem na Câmara dos Deputados conseguiram reverter neste momento.


Brasília, 10 de julho de 2024

Diretoria da CNTE

Ensino Médio aprovado na Câmara atende a interesses do mercado, avalia CNTE

 


A Câmara dos Deputados aprovou na última terça-feira, 9, o texto final do Projeto de Lei 5.230/23 da reforma do Ensino Médio. Rejeitando as mudanças propostas pelo Senado Federal, consideradas pela CNTE como mais benéficas para a proposta, o texto segue para sanção presidencial.

A versão aprovada foi um substitutivo do relator na Câmara, deputado Mendonça Filho (União-PE). O parlamentar foi ex-ministro da educação do governo Temer, e coautor da reforma do Ensino Médio aprovada em 2017, a Lei 13.415/17.

Alvo de desaprovação por diversos setores e estudantes, questões como a redução da carga horária em disciplinas obrigatórias para a inserção de itinerários optativos, foram apontadas por especialistas como ampliadores de desigualdade no acesso ao ensino superior.


Ainda no início de 2023, o governo federal enviou a revisão da reforma, elaborada em conjunto com entidades e especialistas de educação, movimentos sociais e estudantis, para melhorias nos anos finais da educação básica.

Durante a tramitação do PL no Congresso Nacional, lideranças da CNTE e de suas entidades filiadas realizaram mobilizações semanais, articulando com parlamentares a aprovação integral da proposta original. Entretanto, questões como o Notório Saber permanecem no modelo aprovado.

"O que aconteceu ontem foi mais um momento de aprovação no Congresso, com o apoio do Governo Federal, da aplicação da Política Educacional a serviço do Mercado, em detrimento aos direitos das nossas juventudes a uma formação geral básica integrada à formação profissional!", lamentou o presidente da CNTE, Heleno Araújo.

"O Mendonça Filho está na Câmara dos Deputados para servir aos interesses dos setores privados. Ele não está interessado em atender os jovens que estudam na escola pública", completou o dirigente.



Para a deputada Professora Luciene Cavalcante (Psol-SP), os caminhos propostos pelo projeto não vão ao encontro das melhorias para o ensino médio. “A escola precisa de professor bem formado, capacitado, valorizado. E isso não se faz com notório saber”, afirmou.

Principais pontos da reforma do ensino médio

A carga horária da formação obrigatória subiu de 1.800 horas para 2.400h. Para disciplinas optativas, (itinerários formativos escolhidos pelo aluno ou curso técnico), a carga horária diminuiu de 1.200 para 600h;

Na nova versão, as disciplinas de português, inglês, artes, educação física, matemática, ciências da natureza (biologia, física, química) e ciências humanas (filosofia, geografia, história, sociologia) passam a ser obrigatórias. Entretanto, o espanhol fica facultativo;

Sobre os itinerários formativos, os sistemas de ensino deverão garantir que todas as escolas de ensino médio ofereçam o aprofundamento integral em todas as áreas de conhecimento, exceto o ensino profissional. Cada escola terá de oferecer, no mínimo, dois itinerários formativos de áreas diferentes, exceto aquelas que oferecem o ensino técnico;

O ensino técnico agora prevê 2.100 horas de disciplinas obrigatórias. Desse total, 300 horas poderão ser dedicadas aos conteúdos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) relacionados à formação técnica. Até 1.200 horas podem ser dedicadas para cursos técnicos.

O texto também prevê a obrigatoriedade dos estados em manter, em todas as cidades, pelo menos uma escola pública com ensino médio no período noturno "quando houver demanda manifesta".

Além disso, foi retirada pelo relator a exigência de condição excepcional para o ensino médio a distância.

Transição

Com a sessão, o presidente Lula terá a possibilidade de aprovar integralmente, vetar alguns trechos ou todo o projeto. Mas segundo avaliou Heleno, a possibilidade de que isso aconteça é baixa.

"Não vejo possibilidades de vetos pelo Presidente Lula, ele tem o Ministro da Educação como de confiança, sem entender o mal que estão causando aos nossos jovens que estudam nas escolas públicas."

O texto estabelece que as formulações das novas diretrizes nacionais para o aprofundamento das áreas de conhecimento sejam feitas até o fim deste ano, sendo aplicadas todas em todas as escolas a partir de 2025. Os estudantes que estiverem cursando o ensino médio na data da publicação da futura lei contarão com a transição para as novas regras.


Com informações da Agência Câmara de Notícias

Rede Estadual: Novos alvarás liberados para São José de Mipibu

quarta-feira, 10 de julho de 2024

Funcionários/as protestam pela demora do Governo em enviar Projeto de lei do PCCR à AL


Atendendo ao chamado do SINTE, os/as funcionários/as da Educação participaram de um Ato em frente a Governadoria para reivindicar do Governo o envio do Projeto de Lei (PL) do Plano de Cargos, Carreira e Remuneração (PCCR) para a Assembleia Legislativa (AL).

A atividade aconteceu na manhã de 10 de julho, no Centro Administrativo. Como resultado, uma audiência foi agendada para o período da tarde, com início às 15h, e contará com a participação de representantes da Secretaria de Educação, do Gabinete Civil e do Secretário de Administração, além de dirigentes do Sindicato e uma comissão de funcionários/as.

O PCCR dos/as funcionários/as da Educação é uma pauta antiga da categoria e havia uma promessa do Governo de que o Projeto de Lei sobre essa matéria seria encaminhado para a AL em maio de 2023. Contudo, a promessa foi descumprida e o Governo ainda não esclareceu os motivos pelos quais não encaminhou o Plano para avaliação e votação dos/as deputados/as. Com a audiência prevista para logo mais, o SINTE buscará respostas e fará a cobrança pelo envio do PL que trará valorização profissional para os funcionários, data base e previsão legal de reajuste salarial anual.

Fátima Cardoso, coordenadora geral do SINTE, afirma que está ocorrendo uma protelação da parte do Governo para enviar o Plano dos funcionários. Fátima explica que o Sindicato busca entender quais os impasses que estão barrando o envio do PL para a Assembleia Legislativa. “Desde 1999 que iniciamos a luta pelo Plano de Carreira dos funcionários. Os sucessivos governos não têm dado prioridade a essa pauta e no governo atual temos feito o debate, mas precisa avançar. Nós não nos cansamos da luta e esperamos que o PCCR seja encaminhado e aprovado neste ano. Eu vou me sentir plenamente realizada quando os funcionários da Educação tiverem o Plano de Carreira sancionado e o reajuste salarial anual garantido em lei”, disse.

Bruno Vital, também coordenador geral do SINTE, aponta que o Governo descumpriu o acordo com o Sindicato e com a categoria e cobra um encaminhamento do Executivo estadual para essa demanda. “Na audiência de logo mais, esperamos que o Governo traga para a mesa de negociação uma resposta que garanta o envio e a aprovação do PCCR dos funcionários ainda esse ano. Esse Plano vai garantir a valorização desses profissionais e possibilitar a realização de concurso público”, explica.

Rômulo Arnaud, coordenador geral do Sindicato, chama atenção para o fato de o PCCR dos professores ter sido ponto de pauta para o encerramento de greve dos trabalhadores em Educação. “É preciso dizer um basta. É necessário que o Governo tenha iniciativa e encaminhe o Projeto. Se há pontos que precisam de aperfeiçoamento, podemos discutir com os deputados”, afirma.

Rede Estadual: 02 novos alvarás liberados para São José de Mipibu



segunda-feira, 8 de julho de 2024

PL dos Funcionários requer apoio dos congressistas para que seja votado em regime de urgência

2024 tem sido um ano histórico para os/as funcionários/as das escolas públicas brasileiras. A luta permanente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e de suas entidades filiadas – entre elas o SINTE/RN – resultou em um importante passo para garantir a efetiva valorização dos trabalhadores não-docentes da Educação.

A Comissão de Educação da Câmara dos Deputados aprovou em abril o Projeto de Lei-PL 2531/2021 que cria o Piso Salarial dos/as Servidores/as Técnicos, Administrativos e Operacionais da Educação, contemplando os/as funcionários/as efetivos das escolas públicas da educação básica.

A aprovação é resultado de intenso diálogo e mobilização das entidades representativas da categoria.

Nos últimos anos ocorreram diversos debates e audiências na capital federal que contaram com a participação dos/as representantes dos/as funcionários/as. As ações realizadas garantiram o apoio dos deputados da Comissão de Educação ao mesmo tempo que contribuíram decisivamente na  construção do relatório final do PL.

Valor

De acordo com o Projeto de Lei 2531/21, o valor do piso salarial nacional dos profissionais da educação básica pública que exercem funções de apoio administrativo, técnico ou operacional, com formação em nível médio, será igual a 75% do valor do piso salarial nacional do magistério para uma jornada de trabalho de, no máximo, 40 horas semanais.

Na defesa dos funcionários da Educação: Rozangela Souza e Edimar Vicente, do SINTE/RN

Na avaliação do diretor de formação dos funcionários da Regional do SINTE/RN em Parnamirim, Edimar Vicente, a criação do piso salarial dos/as funcionários/as  da Educação representa uma grande conquista para a categoria, pois trata-se de uma política pública direcionada à valorização dos secretários escolares, vigias, merendeiras e auxiliares de limpeza que atuam na área administrativa das escolas públicas da educação básica. São profissionais que desempenham um papel fundamental no ambiente escolar, na construção da educação pública em nosso país, portanto, precisam ser reconhecidos e valorizados".

A diretora administrativa do SINTE/RN em São José de Mipibu, Rozangela Souza, entrou  em contato com os deputados Fernando Mineiro e Natalia Bonavides. Ambos se mostraram favoráveis ao pleito da categoria, assinando, inclusive, o requerimento de urgência que solicita a tramitação do PL 2531/21 em regime de urgência. 

Mas a luta ainda não acabou: a partir de agora, é fundamental a mobilização de todos (as) os funcionários (as) da educação para cobrar o apoio dos demais deputados para que o PL  seja definitivamente votado e aprovado no plenário da Câmara Federal.

O SINTE/RN, juntamente com a CNTE, continuará em mobilização permanente, acompanhando a tramitação desse Projeto de Lei e realizando as ações necessárias para garantir a sua aprovação.

Nossa luta é por respeito, reconhecimento e valorização de todos(as) os profissionais da Educação!