Esses números revelam não apenas as condições de trabalho que nos são ofertadas no Brasil, mas também a "valorização" que o sistema político brasileiro reserva à educação no país. Este é um relato pessoal, mas que apresenta o regime grosseiro, no qual os professores, especificamente os da educação básica, são submetidos. Para chegarmos as escolas que lecionamos, que dista cerca de 30 quilômetros da nossa casa, custeamos todo o deslocamento, que, mensalmente, a depender do trajeto, nos custa 10% do nosso salário. Compramos material de expediente, pagamos a água e o lanche que necessitamos durante as atividades, pois somos proibidos de compartilhar do mesmo lanche dos alunos, mesmo sendo custeado também com recursos públicos. Não obstante, é preferível que a comida seja desperdiçada, mas o professor não pode, porque “ele ganha bem e não trabalha quase nada”.
Não temos auxílio moradia nem vale transporte. Alimentação? Não precisamos! Saúde? Para quê? Talvez, isso justifique a necessidade de o professor ter dois vínculos de trabalho. Ao mesmo tempo, pode apresentar respostas para a problemática docente no Brasil, uma vez que, nesse ritmo de trabalho mecânico e desumano, o docente é impelido a ser um mero reprodutor alienado.
Sendo assim, fazem-se necessárias algumas indagações sobre o fazer docente e a qualidade deste fazer: qual o tempo que nos resta para planejar coletivamente as ações da escola? De fato nos permitem ter formação continuada como prega as políticas farisaicas dos governos? Sabemos ao menos os nomes dos nossos poucos alunos? Conhecemos a sua família? Sabemos de fato do que cada um necessita? Eles se alimentam bem? Dormem bem? Estão protegidos em sua integralidade? O poder público considera o nosso lugar de fala? Afinal, para que serve o professor no Brasil?
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