sexta-feira, 8 de março de 2024

As mulheres e a educação: dia 08 de março é dia de luta!

 


Comemoramos no mundo inteiro o Dia Internacional das Mulheres nesse dia 08 de março. Foi somente em 1975 que a Organização das Nações Unidas (ONU) passou a celebrar essa data para buscar evidenciar a importância da luta pela igualdade de gênero e pelo fim da violência contra as mulheres. Mas essa data tem a sua origem ainda no começo do século XX, quando manifestações de mulheres, e a violenta repressão que sobre elas se voltaram, marcaram para sempre a história da humanidade. E até hoje em diaainda bradamos os lemas dessas tantas lutas, ao lado e solidários às mulheres protagonistas que forjaram essa data: “nenhum direito a menos” e “parem de nos matar”!

Se a gente olhar o caminhar da História mais de longe, em seus processos mais amplos, a gente percebe o quanto evoluímos nessa questão da igualdade de gênero em vários aspectos, como na maior e mais qualificada participação da mulher no mercado de trabalho, bem como na própria escolarizaçãocrescente das mulheres. Segundo os dados do Censo Escolar de 2023 e do Censo Demográfico de 2022, em seu “Indicadores Sociais das Mulheres do Brasil”, que traz informações consolidadas do ano de 2019, enquanto as mulheres perdem por muito pouco no cômputo geral das matrículas na educação básica brasileira (50,6% das matrículas é masculina), na Educação de Jovens e Adultos (EJA), modalidade em que os estudantes são, por concepção, mais cientes e conscientes do que querem e do porquê estarem ali, a maioria é feminina (51,9%).

A composição da força de trabalho na educação básica brasileira já é, e não de hoje, majoritariamente feminina: do total de docentes em exercício na educação básica, 79,5% é de mulheres. Mesmo que saibamos a desigualdade que esse número guarda quando olhamos mais particularmente para as etapas de ensino: na creche, 97,1% é composta por professoras mulheres, enquanto que esse patamar cai muito no Ensino Médio, quando somente 58,6% são docentesmulheres. E nos cargos de direção escolar, as mulheres ultrapassam esse patamar, ocupando 80,6% dos cargos de gestão das nossas escolas, mesmo que em patamares diferenciados conforme a rede em que a escola esteja vinculada: redes federal (23,6%), estadual (66,1%), municipal (83,7%) e privada (84,3%).

A desigualdade de gênero também é observada quando voltamos nosso olhar para a proporção de mulheres entre estudantes matriculados em cursos presenciais de graduação universitária no Brasil. Enquanto as mulheres são 55,7% dos estudantes de graduação no país, em áreas como educação e saúde (excetuando os cursos de medicina), as mulheres formam contingentes de 65,6% e 73,2%, respectivamente. Já nas áreas de TIC (Tecnologia de Informação e Comunicação) e Engenharias, as mulheres são somente 24,2% e 21,6%, também respectivamente. Isso comprova que as áreas de cuidado são ainda associadas a tarefas femininas e que, por terem pouco valor social, revelam os traços machistas de nossa sociedade que se refletem e são reproduzidos também na educação.

Mas nesse cenário de profunda desigualdade de gênero, é possível perceber pelos dados o outro lado dessa moeda. Quando dependem apenas de si mesmas, são as mulheres as que mais se sobressaem em tudo: enquanto no Brasil a taxa de conclusão do ensino médio entre pessoas de 20 a 22 anos é de 70,1%, as mulheres nesse grupo alcançam um patamar de 75%, frente a 65,2% de homens. A mesma coisa se verifica com a taxa de conclusão do ensino superior no Brasil, só que agora auferida entre pessoas com idade entre 27 e 30 anos: enquanto a média geral é de 22,2%, as mulheres alcançam um percentual de 25,6% e os homens de 18,7%. As mulheres também estão acima da média nacional quando avaliamos o nível de instrução da população maior ou igual a 25 anos: enquanto a média brasileira de pessoas com nível superior completo é de 17,4%, a das mulheres é de 19,4%, enquanto a dos homens é de 15,1%.

O conjunto desses dados da situação da mulher na educação, apesar de demonstrar se tratar de uma área absolutamente feminina, indica também a reprodução dos mesmos critérios de desigualdade que vemos na sociedade em geral. A luta é e deve ser permanente. A vigilância sobre as conquistas não deve nunca esmorecer e nós, lutadoras e lutadores sociais, reconhecendo o protagonismo feminino nessa data de luta que representa o dia 08 de março, não podemos nunca cochilar diante dos ataques. Atribuída a Simone de Beauvoir, escritora, filósofa e ativista política francesa, a seguinte frase não poderia ser mais atual: “Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida”.

Que esse dia 08 de março de 2024 possa ser mais um dia de luta e mobilização em todo o Brasil. Ele já consta no calendário das organizações sociais, sindicais e políticas do país como um dia de luta para toda a sociedade se envolver, seguindo uma tradição de quase todo o mundo. Que façamos aqui em nosso país um bonito movimento nessa próxima sexta-feira. Informe-se e participe em sua cidade de mais esse dia de luta e mobilização em defesa dos direitos das mulheres!

(*) Por Heleno Araújo, professor, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e atual coordenador do Fórum Nacional da Educação (FNE).

Reprodução Jornal Brasil Popular

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