segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Coordenador do SINTE/Mipibu comenta sobre o V Encontro do Movimento Pedagógico Latino-americanos


Na semana passada durante o V Encontro do Movimento Pedagógico Latino-americanos educadores do Brasil e de países da América reuniram-se em Curitiba (PR) para discutir o panorama educacional no continente.

Nas falas, ficou evidente que o desmonte dos sistemas de educação por governos neoliberais não se restringe ao território brasileiro. Colegas da quase totalidade dos países latino-americanos presentes destacaram nas suas intervenções a multiplicidade de reformas no campo educacional e a brutal desvalorização dos profissionais que atuam na educação pública como uma todo.

No Brasil, as reformas - sejam elas, trabalhistas, previdenciárias e/ou educacionais - tem avançado de forma célere, sobretudo  nos estados e municípios comandados pela direita.
Estes governos, por sua vez, parecem desconhecer o significado da palavra "limite", tamanha é a truculência com que tratam os segmentos mais carentes da população, vide a barbárie ocorrida na favela Paraisópolis, em São Paulo(SP). 

Para este capitalismo selvagem travestido de neoliberalismo, o lucro deve se sobrepor ao homem.  Pessoas não tem rosto, são percebidas como coisas, e como tal, devem limitar-se a serviços subalternos. Não há preocupação alguma com o fortalecimento intelectual da população, pois, nessa visão turva, basta ao "homem-comum" mínimas doses de conhecimento.  

É evidente a tentativa dos Estados Unidos em reconquistar o controle sobre os demais países do continente. Trump, na surdina, tenta recriar uma versão atualizada da Doutrina Monroe para resguardar seus interesses políticos e econômicos diante do avanço chinês sobre a América Latina nos últimos 20 anos.
Quanto ao governo Bolsonaro, podemos tranquilamente dizer que se trata de uma unanimidade pois jamais se viu na história brasileira um governo tão subalterno aos interesses internacionais. Vivemos tempos difíceis onde o estado brasileiro está sendo aparelhado por sabotadores lunáticos com o propósito de aniquilar tudo que ainda existe de bom e crível neste país. Vivemos uma verdadeira caça as bruxas, com perseguições explicitas a grandes expoentes da nossa intelectualidade, como Paulo Freire e outros grandes.

Diante de um panorama asfixiante, nos deparamos com um cenário nefasto onde a educação e seus trabalhadores são encarados com desdenho por grupos que, por sua vez, se utilizam de fake news para macular instituições públicas e seus servidores.

O que podemos esperar do futuro? O que será de nós até 2022? Assistiremos docilmente a chegada de 2022? E mais: Será que esse governo truculento estará disposto a respeitar o rito democrático das eleições? Essas foram algumas das questões enfaticamente discutidas durante o encontro que - vale bem salientar - insistem em não se calar. Vivemos uma nova conjuntura, uma nova era e precisamos repensar nossas praticas.

As centrais sindicais vem sofrendo constantes ataques. As fake news e o jornalismo tendencioso da imprensa brasileira tem empurrado a sociedade contra a classe trabalhadora organizada em associações e sindicatos. As políticas neoliberais do governo Bolsonaro tem inspirado a proliferação de iniciativas ultrajantes e indecorosas que vem implodindo direitos históricos dos trabalhadores.

Os governos tem endurecido o jogo contra as categorias, tem nos transformado em personas non gratas, descontando dias de paralisações e até mesmo retaliando trabalhadores que participam de atividades sindicais. E está cada dia mais comum a negativa dos governos em não repassar as consignações como forma de sufocar as entidades sindicais.

É tamanho o despautério, que, até mesmo em nosso meio, encontramos com relativa frequência pessoas que questionam e banalizam a atuação sindical. O momento evidencia a necessidade de conscientizarmos a categoria. Nós, enquanto sindicalistas, devemos repensar nossas estratégias/posicionamentos e ampliar essas discussão com o alunado, com os pais e com os demais trabalhadores da educação, independente de serem eles efetivos ou terceirizados. Temos que desenvolver esse diálogo, estar mais próximos das nossas comunidades escolares e esclarecer o que está posto. Não basta derrubar Bolsonaro, temos que neutralizar o que ele representa. Para que isso ocorra, precisamos colocar  gente na ruas para pressionar os poderes constituídos. Vivemos atualmente o acirramento de uma luta de classes. A direita vem se aproveitando do momento atual para privatizar, terceirizar, expropriar  e porque não dizer aniquilar os direitos trabalhistas.

É fundamental defendermos as pautas salariais mas precisamos ir além, muito além dessa questão. É preciso combater as políticas voltadas para a educação "propostas" pelo governo Bolsonaro. 

Outro ponto a ser destacado: a multiplicidade de fundações apodrece a educação com metodologias que contrariam os interesses da educação e, em muitos casos, criminalizam professores responsabilizado-os, inclusive, por eventuais fracassos ocorridos durante o percurso educacional. Com a desculpa de prestar assistência pedagógica gratuita, elas (as fundações) se enraízam nas secretarias municipais e estaduais demolindo ideias e conceitos populares, abrindo caminho para outras organizações sociais (OSs) que somente apontam  para a privatização da educação pública

Vivemos uma nova conjuntura, uma nova era e precisamos repensar nossas praticas. Nós, enquanto trabalhadores, nosso alunado e a sociedade em geral precisa acordar desse estado de letargia. Não ao neoliberalismo, não a redução dos orçamentos para a educação pública e não a intervenção das fundações e organizações sociais nas nossas escolas.

Viva a educação pública, viva Paulo Freire!


Laelio Costa
Coordenador do SINTE/RN em São José de Mipibu


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