segunda-feira, 18 de novembro de 2024

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Consciência Negra: professor cria 20 regras para combater racismo nas escolas

 Objetivo é garantir a inclusão e o cuidado respeitoso com as crianças negras

Ricardo Jaheem é professor da rede municipal do Rio de Janeiro | Foto: Joedison Codeço


Imagina se existisse um guia para ajudar a combater o racismo e garantir a segurança de crianças pretas em escolas. Foi com esse objetivo que o educador Ricardo Jaheem criou um protocolo com 20 medidas para serem adotados por ambientes que lidam com crianças.

Na semana da Consciência Negra, o professor da rede municipal do Rio de Janeiro contou à CNN que já sofreu racismo na escola. “Sou aquele menino preto que foi colocado no fundo da sala de aula e que era considerado incapaz de aprender”, disse Jaheem.

Essa foi a motivação para criar o “Protocolo para proteção das crianças negras: 20 medidas para estimular a identidade racial positiva nos espaços de educação”. O documento lista diretrizes práticas que devem ser usadas para garantir a inclusão e o cuidado respeitoso com as crianças.

O educador defende que o protocolo pode ser usado em qualquer ambiente, mas, nas escolas, o material poderia contribuir para a redução da desigualdade educacional.

Desigualdade educacional

O Anuário Brasileiro da Educação Básica 2024, divulgado na semana passada, mostrou que a taxa de conclusão do ensino médio com até 19 anos para alunos pretos é de 68%, 66% para pardos e 59% para indígenas. O número sobre para 78% entre os alunos brancos e para 88% entre amarelos.

Outra pesquisa recente revelou que 54% dos professores brasileiros já presenciaram casos de racismo envolvendo seus alunos em salas de aula.

Esses números indicam que a discriminação contra pessoas pretas é presente nas escolas e, por isso, a expectativa de Jaheem com o protocolo é garantir às crianças negras uma proteção real.

“Podemos afirmar que, todos os dias, milhares de crianças chegam ao ambiente escolar e sentem, em seus corpos, o peso da negação de direitos”, comentou.

"Espero que as crianças pretas, periféricas e indígenas possam ter o direito de ser crianças e de sorrir, aprender, brincar e viver o amor em qualquer ambiente em que estejam — especialmente no ambiente escolar".

Ricardo Jaheem, professor


Confira as 20 medidas:

1. Adotar um manual de linguagem antidiscriminação

2. Criar um cronograma anual de debates, workshops e oficinas, para que todas as pessoas da organização tenham formação continuada sobre diversidade

3. Incluir no planejamento estratégico ações voltadas para a comunidade externa

4. Criar canais de comunicação e promover eventos para ouvir grupos periféricos

5. Criar um comitê racial para acompanhar situações sensíveis

6. Ouvir e respeitar as histórias individuais

7. Fomentar ações antirracistas multidisciplinares e interdisciplinares

8. Contratar a intelectualidade negra

9. Eliminar estereótipos raciais que perpetuam lugares de exclusão para crianças pretas

10. Orientar ações baseadas em conexões afetivas

11. Desenvolver processos de escuta ativa

12. Incluir a história dos povos africanos nos currículos de todas as áreas do conhecimento

13. Criar ações de enfrentamento ao racismo religioso

14. Valorizar a história e a cultura dos povos originários

15. Adotar indicadores para relacionar rendimento escolar e fatores críticos do entorno, como a violência urbana

16. Fomentar programas de saúde mental

17. Pensar a diversidade negra

18. Incluir as histórias contadas pelos povos indígenas nos currículos

19. Considerar a interseccionalidade nos projetos antirracistas

20. Criar uma rede de monitoramento dos pontos deste protocolo para validação e ampliação de acordo com a necessidade

Nova política nacional de educação visa superar desigualdades étnico-raciais

 


Mais um passo para a garantia de uma educação inclusiva e antirracista: a Política Nacional de Equidade, Educação para as Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar Quilombola (PNEERQ), criada em maio de 2024 pelo Ministério da Educação, combina esforços coletivos da União, estados, municípios e do Distrito Federal para colocar em prática as ações e programas que buscam superar as desigualdades étnico-raciais na educação brasileira e promover a política educacional para a população quilombola.

Com pouco mais de seis meses de vigência, o secretário de combate ao racismo da CNTE, Carlos Furtado, celebra o desempenho da PNEERQ. “Foi uma política muito bem recebida por todos”, avalia. “Primeiramente, pela grande adesão dos estados e municípios, bem como de movimentos sociais que lutam na perspectiva da igualdade racial”, diz.

Ele salienta que a PNEERQ não é apenas um programa temporário, mas sim uma política de governo necessária para superar as desigualdades educacionais, promover uma escola antirracista e uma educação escolar quilombola de qualidade referenciada e inclusiva.

“Esperamos que a PNEERQ seja uma ferramenta forte no combate ao racismo estrutural e ajude a desconstruir os preconceitos que estão enraizados na sociedade”, compartilha Carlos.

O MEC prevê que, até 2027, a iniciativa receba mais de R$2 bilhões em investimento, formando mais de 200 mil gestores e professores no âmbito da educação para relações étnico-raciais (Erer) e da educação escolar quilombola (EEQ).

Segundo Carlos, é esperado que a política possa contribuir ainda mais para a valorização da Educação Escolar Quilombola e as especificidades das comunidades; o fortalecimento da identidade cultural, empoderamento e senso de pertencimento entre crianças e jovens; e para o cumprimento de legislações que asseguram o ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena nas escolas (Leis 10.639/03 e 11.645/08).

Comunicado do SINTE/RN - Núcleo São José de Mipibu